quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

¹/4 de Lata

Um pouquinho de reminiscências particulares...
com vcs ¹/4 de Lata.




Um garoto de carne, osso e sonhos. Um pai de carne, osso e desilusões.
Um dia real e palpável, quente como qualquer outro de verão.
A lata era companheira inseparável de seu pai, este que o garoto chamava para jogar futebol. Tinha o nome de Zacarias, não riam dele, é um bom nome segundo sua mãe. Nesta pequena história Zacarias não é um menino bobo e ingênuo, de 6 anos, nem pequeno e mirrado, não tem semblante de criança triste, nada disso, pelo contrario é bonito, cabelos bem cuidados de bom corte, forte, sadio, daqueles garotos sapecas que anseiam por saber o que se esconde abaixo do fino vestido das mulheres bonitas e de suas amigas de classe. Tudo o que todo garoto queria ser e ter, Zacarias tinha e era. Mas Zacarias tinha um desejo. Desejo este que ele jamais revelou a ninguém, era guardado abaixo da superfície de seus olhos arredondados e negros. Estava enterrado dentro dos seus olhos, junto com as imagens da realização de seus sonhos.
Todas as noites antes de dormir Zacarias rezava, com um fervor não pertencente a uma criança de sua idade.
- Nada mãe! - respondia ele a sua mãe sempre que ela perguntava por que ele rezava tanto.
Se deitava e dormia.
A mãe tentava conversar com o pai, pois já suspeitava sobre o que seriam os motivos das orações do filho, descontrolado e completamente bêbado gritava com sua mulher. Por varias vezes Zacarias acordava.

- Não!!! Maldita hora em que me casei com você! Mas de amanhã não passa eu vou dar parte de você na delegacia! Covarde!!!

- Saia da minha frente, sai do quarto, se quiser vai dormir lá em baixo na sala, mas hoje você não dorme na minha cama!!! - gritava o pai com uma voz balbuciada e a solavancos movidos a álcool.

No outro dia, sua mãe lhe levava a escola cedo, como sempre depois das brigas, ela o deixava um quarteirão antes do portão do colégio e ficava observando ele entrar na escola. Zacarias olhava para trás e via sua mãe acenando e sorrindo por entre olhos marcados por mãos pesadas e lagrimas. Zacarias tinha medo, muito medo que sua mãe não suportasse mais e fosse embora de casa deixando-o apenas com seu pai.
O garoto parecia se importar com o que havia acontecido durante alguns dias, mas logo se esquecia e encarava tudo como um incidente isolado, mas aquele era parte de uma linha enorme de produção aquecida e pronta para mais demanda, por isso todos se calaram sobre esses assuntos dentro de casa.
Zacarias como sempre via seu pai com a lata na mão, ele estava bêbado sempre, até que um dia ninguém mais se lembrou de como ele era antes de começar a beber e deram ele como sendo sempre assim, era sua personalidade, seu caráter, suas veias regadas de embreague continuo e interminável, proporcionado por latas e mais latas, que eram revendidas ao ferro velho e dado como mesada a Zacarias.

Zacarias tinha hora para falar com seu pai, assuntos de escola, viagens, amigos, tudo deveria ser falado a ele antes de começar a beber, caso Zacarias levantasse por descuido depois das nove da manhã, seu pai já estava na companhia da inseparável lata e já falando de um jeito diferente, um jeito que o deixava constrangido pelo próprio pai, não era vergonha dele, era vergonha que se sente pelo outro, vergonha alheia.

A noite chegava e de novo lá estava Zacarias ajoelhado ao lado da cama, sua mãe olhava-o sem que ele soubesse. Quando foi se deitar viu sua mãe, ele estendeu o braço sem dizer nada, ela se desencostou do batente da porta do quarto azul do filho e foi até ele, abraçou-o. Ele chegou com muito cuidado ao pé do ouvido da mãe, pregou seus olhos na porta, para avistar caso alguma sombra tomasse a luz do corredor e disse:

- Promete que não vai me abandonar nunca?

- Claro que não! Por que isso Zacarias?

- Shhhiiiiiii!!! - tentava calar sua boca para que seu pai não ouvisse o conteúdo da conversa.- Eu só queria saber isso. Boa noite. – virou-se e dormiu.

Sua mãe ficou meio abalada com a conversa e nem dormiu, passou a noite pensando por que seu filho dissera aquilo, pensou no futuro que estava construindo para seu filho, pensou em tudo e de cansaço pensou no divórcio, poderia ir para casa de sua mãe, onde o clima era mais ameno, mais saudável e mais propicio para criação de árvores como Zacarias, via seu filho como um grande eucalipto preso dentro de um vaso apertado posto em terra ruim e sem nutrientes para crescer o quanto deve. O relógio despertou, era manhã e mal sabia o que havia acontecido no quarto de Zacarias.

Na mesma noite, pouco depois que sua mãe abandonou o quarto meio desnorteada com a conversa do filho, o lençol de Zacarias caiu da cama, lançado ao chão por um vento forte que entrava pela janela branca de seu quarto azul. Ele tentou dormindo puxar o lençol mas sem sucesso acordou pois o vento lhe dava uma fria sensação em contato com seu suor, abriu os olhos, varreu o chão a procura de seu lençol, estava aos pés da cama, levantou. Se deparou com uma luz forte que não era a do corredor, tão maior em dimensão e força que seus olhos se apertaram, a luz diminuiu e sorrindo uma linda fada disse – desculpe-me, você estava dormindo, eu só estava a velar o seu sono!

O garoto em um rompante de alegria deu um pulo da cama fechou a porta e olhando para a fada perguntou:

- Veio para realizar o meu desejo?

A fada consentiu com a cabeça. Ele se ajoelhou aos pés da fada que ainda sorrindo lhe conferiu o que ele havia pedido.

Pela manhã sua mãe abriu a porta do quarto, foi até ele como de costume, sentou-se na beirada da cama, passou a mão em sua cabeça, estava gelada, como nunca, em pânico a mãe virou o corpo do garoto para que seus olhos pudessem ver, e tamanho foi seu desespero ao ver seu rosto refletido em seu filho, que estava diferente, o rosto de seu filho estava inteiramente metálico, puxou o lençol, e tudo era metálico, mas ainda sim era possível contemplar sua feição, a mesma. Ele abriu os olhos que piscavam em LED´s, disse “bom dia!” com uma grave voz também metálica.

Sua mãe chorou longe de sua face, para não enferrujar-la. Um choro triste de constatação.
Zacarias havia conseguido o que tanto queria, se tornar um garoto de lata.

Agora poderia desfrutar da companhia de seu pai como sempre sonhara.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Houve uma Sexta-feira

Houve uma sexta-feira. Sim, ela houve porque eu a vivi.

Ela veio a mim, pareciamos saber o que viria. Um misto de amor, carinho, paixão, tudo. Tive medo. Covarde que sou.
Mas seu cheiro me tomou, me tombou como peão tomba novilho, veio em um laço de corda forte, me agarrou pelo pescoço. Cherei-a como um cão. Chupei-a como criança chupa fruta, me senti homem, me senti como deus, forte como o sol, viril como teus raios.
Chupando veio os gritos mudos do extase de Santa Teresa, mudos como o marmore, e o corpo soltava cada nota em espamos musculares, a mais linda e bela sinfonia do corpo em gozo. Tão Santa quanto Teresa, purificada pelo sentimento mutuo.
Depois foi sua vez, degustou-me devagarpor tempo demorado - ou foi para mim - como uma granfina em restaurante chique, estava ali não para comer mas posta ali para d-e-g-u-s-t-a-r.

Sim senhoras e senhores, não fui comido pela mulher de coxas fortes - que se entrelassaram as minhas como trepadeira, literealmnete - me senti como caviar, como fruto exótico e caro do mar aberto. Dou risada de mim mesmo, mas foi assim que me senti.
Retribui em periodos de velocidade pelos quais ela pedia mais, ai parava, pirraçava, fazia -a pedir mais, nos intervalos chupava-a.

Me senti vivo como nunca imaginara ser possivel.
E inocente, certteza de que não havia erros,certeza de que não havia pecado entre o lençois. Estavamos nus perante nossos deuses e não sentiamos vergonha.

A inocencia era a folha que cobria nossos orgãos genitais.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Com Carinho aos Pés da Rosa

A Flor, tão bela após um dia de colhida da roseira, olhava para baixo.
Perguntei-lhe então:

" Por que bela flor olha para o chão? O sol ja nasceu e espera seu sorriso!"

Sem levantar a cabeça ela responde:
" Procuro meus pés, procuro meu chão."

E se sentindo perdida e desemparada em lindo vaso sem terra, chorou suas pétalas, uma a uma por saudade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Corpos x Espaços

Imaginei estar na pior, parecia que iria cair, sentei-me na cadeira e por um instante tive vontade de sumir mundo afora. Percebi que pobre da cadeira. Sempre alguém senta nela, ela nunca pode sentar-se, tem de estar sempre em pé, quando as visitas se vão, seu dono a põe de pernas para o ar sem o menor respeito.
O pior de tudo isso é; ter quatro pernas e não poder se quer sair do lugar sozinha.

Deite-me no sofá achando que, já que com dois braços talvez ele tivesse um ombro pra me dar, mas não, sofá tem braço, mas não tem ombro. Tem costa, escoro, mas ombro não, tem duas ou três bundas, acentos, mas não tem quadris, nem cintura. Sofá é bicho incompleto como eu.

Deite-me na cama, escorei minha cabeça na cabeceira, chorei mais de 100 mililitros, o previsto para o mês inteiro em um só dia. Percebi que a cama não tinha cabeça, mas um lugar a deixa-las, a cabeceira. Aos pés atrofiados da cama corri o mundo inteiro em sonho. Percebi que os meus pés tinham peito, mas não coração. Percebi que a mão francesa é feita no Brasil, que as portas do guarda-roupas não nos levam a saída nenhuma, muito menos a alguma entrada, que o bico do bule só canta o vapor de dias frios regados a chá, que as alças não namoram os alces, que o fato do tênis ter língua não signifique que ele fale, que as bocas do fogão não fofocam entre si, nem bocas de lobo comem ovelhas, que ninguém cai no buraco da fechadura, que a água que sai da torneira não torna a ela á mesma que foi um dia, que a cera da vela não é a mesma do ouvido, que um corpo de texto não tem braços, nem pernas, nem cabeça, nem nada, então por que é corpo? Que a flor nada mais é do que o órgão reprodutor das plantas, pênis e vaginas coloridos, ou brancos ainda á colorir, mas sem olhos para flertar, que embora o copo tenha borda ainda se pode desenhar fora dela, que embora almofadas tenham capa, não voam, muito menos são heróis, que as orelhas do caderno dizem mais sobre quem você é, do que te ouve. Que eu tenho pernas, não saio do lugar, que embora tenha braços, não sei onde pôr as mãos, que embora tenha cabeça, não sei direito o que se passa dentro dela, que eu sou um ser ”completo”, minhas mãos podem tocar piano e gaita de fole, que minhas pernas correm, que minha cabeça julga pensar segundo suas próprias regras, mas me falta saber o que fazer com tudo isso. Dois corpos não ocupam o mesmo espaço, nem dois espaços o mesmo corpo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um Chapéu, Dois...

Dois meninos de chapéus amarelos, cheirando a mofo cruzaram juntos, a passos largos, o semáforo vermelho, vermelho para eles. Os carros verdes em si mesmos pararam em marcas negras no asfalto, os amarelos, pratas e outras cores, produziram o mesmo cheiro de pneu queimado e marcas negras, bem negras no asfalto preto. Os dois nem tremeram os olhos para os lados, um par deles verde, continuou fixado em seu caminho, o outro também fixado no caminho que avançava, só que castanho escuro, um par também.
Duas pernas, cada um, avançavam as ruas e sinais vermelhos, amarelos, poucos verdes, para eles, cochas grossas e finas, duas grossas e duas finas, nos olhos castanhos, cochas pretas e grossas, no par de verdes, chochas brancas e finas. Mas os pés, esses 41 e 42, 42 verde branco fino, 41 castanhos preto grosso, pareciam cavar o chão pelo qual passavam, como dois cães pequenos e robustos, de pelo branco e fucinho preto. No rosto preto e olhos castanhos, simetria, harmonia entre sobrancelhas e tamanho dos lábios, pele lisa suportada também harmoniosamente por cochas grossas, no rosto branco pintas vermelhas e desequilíbrio proposital entre o tamanho e o lado da franja, rosto grande, cabeça grande inversamente proporcional ao tamanho das cochas que a sustentava. Os pés pequenos demais do par de olhos castanhos fixos no caminho a cada milésimo diferente, eram desproporcionais ao tamanho da cocha, o que fazia com que desse mais passadas desajeitadas que o par de olhos verdes fixos no caminho novo medido por passos dados.
Porém suas cochas compensavam a exaustão, já os olhos presos no rosto branco, por ter os pés maiores, não precisava dar tantos passos, porém sua cocha fina sofria a exaustão de poucos passos dados. Entraram em uma loja e compraram sorvetes. Nada de tão espetacular no mundo hoje, o dia em que a simplicidade virou poema complicado...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tedmund e a Noite

Não criem grandes expectativas, estou algum tempo sem escrever aqui, mas isso não significa que passei um bom tempo pensando sobre o que postar... mas ai vai.

Ted era um garoto, hoje já não o é. Ted é apaixonado pela noite, até hoje é. Ted dormia de dia apenas para admirar o escuro. Seu pai não entendia o por que do filho ficar horas na janela escura com seus brinquedos, mas para Ted a graça estava em imaginar o que se escondia lá fora, Ted não tinha medo do escuro, era nele que sua imaginação voava, e podia rever os monstros, vestindo aquelas roupas cor rosa e apertadas de balé, os monstros (segundo Ted) odiavam quando ele fazia isso.
Seus amigos, ou melhor seus colegas de classe, diziam que ele era estranho, afinal todos ali tinham medo de escuro, inclusive a professora disse certa vez que já teve medo de dormir sozinha quando criança, por que tinha medo do que se escondia em baixo de sua cama. Ted adorava pensar o que havia em baixo de sua cama, imaginava outras coisas, já que apenas o pó, as teias de aranhas, e suas meias esquecidas não o interessavam muito. Vamos chamá-lo de Ted, pois é assim que ele prefere, acha seu rosto fino demais para ser chamado de Tedmund. Tinha mais cara de Ted (Tedmund soava muito grave, e segundo ele era nome de gente velha, ranzinza e chata).
Seu rendimento escolar era péssimo, a professora devia chacoalha-lo mais de três vezes, berrando bem alto seu nome, para que ele acordasse, quando ele acordava! Pois havia vezes em que a professora desistia de tentar e o deixava dormindo na sala, sua mãe já não sabia mais o que fazer, e também já estava ficando mal sem dormir, já nem trabalhava direito. Ted só queria saber da noite, adorava brincar no escuro.

O pai de Tedmund, ops! Ted, sempre lhe perguntava se ele gostaria que deixasse a luz acessa, assim como o avô de Ted fazia com seu pai quando criança, mas Ted sempre respondia; “Não! Apague por favor pai! Boa noite.’’ – respondia ele já tomado pelo escuro de seu quarto.
Quando Ted ficou sabendo que as corujas viviam de noite cismou que ele poderia ser uma coruja também! Seu pai logo tirou isso de sua cabeça com um argumento bem simples, ele não tinha asas, e seu rosto era fino de mais, não caberia nele olhos tão grandes e redondos, o garoto concordou e tirou tais idéias da cabeça. Mas o que era então se não uma coruja?
Pensou, pensou e de tanto pensar, perguntou a sua mãe o que ele era se não uma coruja do rosto fino e semi-analfabeto em voos? Sua mãe lhe disse bem cansada do assunto; “Você Tedmundo é meu filho! Meu filho! Você não nasceu de um ovo! Por tanto é um garoto, uma criança que precisa dormir a noite como todas as outras! – Ted ficou surpreso com o que disse sua mãe, ele não sabia o que era pior, o fato de saber que era igual a todo mundo, ou o saber que para que tudo fosse normal, teria de dormir de noite, e perder toda a beleza dela.

Havia um amigo do pai de Ted, que era médico, o pai de Ted pediu então alguns conselhos do que fazer com o filho, o médico sugeriu; “Ensine a ele o quanto a luz é bonita! Mostre a ele a beleza de uma vela, por exemplo, logo ele ira ver que é sempre melhor enxergar tudo com clareza!” Assim fez o pai de Tedmund.
Ao voltar do trabalho comprou uma linda vela azul, com estrelas amarelas. Chegando em casa se trancou no quarto com Ted, apagou as luzes, e do nada a luz apareceu, era um fósforo, sua luz no começo parecia que ia se apagar, mas logo a chama encontrou o restante do palito, a luz se fez maior, então ele acendeu a vela, que por sua vez fez uma chama bonita e grande. O pai sacudiu o palito até apagar sua chama, um cheiro de fósforo veio até seu nariz. O pai sorriu com luz no rosto, Tedmund pulou da cama e correu para bem perto da chama, estendeu o dedo, mas era quente demais, olhou para o pai e sorriu de volta, os dois ficaram admirando a vela durante um bom tempo. Parecia-se muito quando acaba a força em cidade grande, a casa se enche de velas, quando a luz volta, não dá vontade de apagar...
A vela foi derretendo e derretendo até se apagar... o pai já havia dormido, Ted em seu colo viu quando o pavio, já não mais tendo onde se apoiar, caiu na cera que ele próprio havia derretido e se afogou...
Ted sorriu e disse ao pai; “Olha pai, a vela se afogou no próprio cuspi!!!!! Ahahaha...”
Seu pai resmungou qualquer coisa, de novo Ted voltou a se apaixonar pela noite e o escuro. Quando o dia veio Tedmund dormiu, ansiando para que a noite viesse a galope.

O fato é que ninguém discordou do que Tedmund disse, que ele adorava velas “por que elas faziam tanto luz, quanto escuro!”;

Há chamas que permanecem, até mesmo depois de apagadas...

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Medidas

Dizem que não há diferença entre um quilo de chumbo e um quilo de pena.
Vejo um quilo de chumbo, uma chacina.
Um quilo de pena, uma guerra de travesseiro.

Coisas Sobre a Mentira

A morada de Deus não se chama mentira.
O maior mentiroso, é aquele que cria verdades para si.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Um Cigarro de Formiga

A cigarra cantou durante a primavera, enquanto a formiga trabalhava. Cantou durante o verão, enquanto a formiga trabalhava. Cantou durante o outono, a formiga alertou a cigarra mais de uma vez, e trabalhou mais e mais para guardar suprimentos para o inverno, a cigarra nada fez, só cantou...
O inverno chegou rigoroso e a cigarra já não tinha mais o que comer, estava tudo congelado, morrendo de fome e de frio, bateu a porta da formiga que lhe avisou tantas vezes para guardar suprimentos.
A porta se abriu e de lá saiu uma outra formiga, jovem, nem parecia aquela que tanto trabalhou, a cigarra espantada perguntou onde estava a velha formiga.

- Ela morreu. Seu tempo se esgotou. – disse a nova formiga.

A Cigarra ficou triste, abaixou sua cabeça e saiu, a nova formiga lhe ofereceu alimento e abrigo, mas a cigarra recusou, se sentou num tronco velho retorcido pelo gelo, e cantou, cantou, cantou, músicas tristes e alegres até morrer também.

Moral da história: Pra que? Pra quem? O que você poupa? O tempo não pode ser guardado. A vida queima tanto quanto canta a cigarra. Escolha sua música, ou queime as partituras, porque as formigas de primavera, não chegam a comer o alimento estocado para o inverno.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Procuro...

Olho pelo canto dos meus olhos. Não que me guie pela música deles, meus olhos não tem produzido muitas músicas ultimamente. Olho pra ver se não esta ao meu lado. Mas não esta ali. Foi só um pensamento parecia estar, mas não estava. O nada tem me rodeado, mas eu me sinto na companhia de alguém... Talvez seja o efeito de estar só, de me sentir acompanhado por mim mesmo.
Adoro um drama... Meu Deus... Não consigo ser realista nem um segundo que seja, tudo tem que ficar rodeando em torno de textos, de vidas criadas que não vivi mas gostaria de ter vivido, BOSTA... Revolta... Fico rodeando como uma mosca na padaria em volta do doce até perceber o local certo do pouso... Viu? É isso que eu digo, por que eu simplismente não digo, eu tenho muitos floreios pra falar que eu sou um saco, fico rodeando e textos e ideias vão surgindo, vidas inteiras que não vivi... Queria me dar ao luxo de viver apenas uma coisa que escrevi. São só páginas e mais páginas de mentiras, reflitão se quiserem, tomem como verdade a vida que eu não bebi. Peguem. Esta no balcão, escolha qual quer levar... So se torna real quando você vive... Eu de novo dando uma de dramatico, de revoltado com a vida, sem muitos motivos, ela ja começa a esboçar um leve sorriso pra mim, depois da cara de tempesta. Ahhhfff... Com isso, com todo esse rodeio de indiretas subjetivas quero dizer que minha vida tava uma merda e agora tomara deus, vai voltando ao normal.
Procuro, mas não sei o que...
Criei esse blog por que as ideias e textos não me deixavam em paz... As vezes as ideias gritam... Muito. Bem vindos e comentem na minha valvula de escape.
Procuro, mas no meio de tantos rodeios vou descobrindo outros sentimentos... Quem sabe se algum dia publicar muitas obras, muitas mesmo, e depois de morto me classifiquem como gênio, (sim eles só classificam como gênios os mortos) talvez digam que eu tinha um estilo não linear de pensamento que vão abrindo pra cada vez mais leituras e possibilidades... Ou não... Eu morra e ninguem saiba quem fui.
Olha o drama!
Procuro, mas acho que só queria dizer que se vc não toma suas decisões o tempo toma por você. Sinto saudade daquilo que nunca tive por mais que cinco minutos...
É possivel sentir suadades daquilo que nunca tive?
Saudades...enfim tanto faz se é possivel ou não, ainda não diminui minha saudade...

Acredito que somos influenciados pela nossa vida pessoal na nossa produção de trabalhos, então creio que não será um mundo rosa que irei retratar aqui nos próximos dias...
Até logo e sem muito drama...

sábado, 18 de setembro de 2010

Semelhanças

Em um ringue;

O Juiz diz, pode bater a vontade.
Os dois homens riem feito feras, a boca se enche de água, tamanha a vontade de bater no oponente.

O Juiz:
Vale da cintura para baixo, genitais, arrancar os cabelos, morder, os olhos também estão valendo e valem muitos pontos. Há uma única regra, não bater em nenhuma parte de seu oponente que seja semelhante a sua.
VALENDO!!!

Os dois estupefatos se olham, a platéia foi ao chão, vaias, latas e copos eram arremessados o tempo todo, o juiz teve de sair do ringue de baixo de forte proteção por parte dos seguranças, os dois homens permaneceram se olhando, procurando uma parte neles que não fosse igual, para na primeira oportunidade o que achasse primeiro socasse-a com gosto. Mas ficaram apenas se olhando.
O estadio se esvaziou, e a primeira gota de suor desceu do rosto de um deles, como poderiam brigar assim, se olhavam feito estranhos, eram estranhos um ao outro, mas havia algo neles que os deixava identicos, talvez fossem os braços, igualmente fortes, e também por serem dois braços, talvez as duas pernas, ou até mesmo os dois olhos, mas havia algo de mais semelhante que eles não sabiam explicar o que era. Os seres humanos do nosso século se descobrem procurando no semelhante aquele que não o é.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Dalva

Dalva mora em um curtiço, e gosta muito de todas as suas 16 vizinhas. Dentre todas a que ela mais gosta é Nalva, porem Nalva por sua vez, não suporta Dalva e vive se fazendo de avessa, com seu sorriso de boca frouxa, escondido pelo lenço na cabeça.
Nalva porem, entre Dalva e qualquer outra das quinze vizinhas, prefere Malva, que é o diabo e faz justo ao seu nome. Malva sendo quem é, não é nenhuma trouxa, e odeia Nalva com seu sorriso de boca frouxa.
Mas Dalva vive achando que as duas são, depois das quatorze outras vizinhas adoráveis, suas melhores amigas, e mais confiáveis também.
Quando o marido de Malva, o Francisco, morreu, Dalva chorou, Malva também, Nalva porem não se conteve e disse que tivera a tempos atrás, um relacionamento as escondidas com o marido de Malva, Malva era só prantos, Dalva que era muito amiga de suas dezesseis vizinhas, chorava juntamente com Marinalva, enquanto Nalva não parava de falar, cuspindo com sua boca de sorriso frouxo, em cima da cara de Marinalva, que prontamente ficou confusa em meio a seus próprios berros, pois mal sabia Marinalva se o que ela chorava era pranto, ou era baba de Nalva, no fim do velório, todas se revelaram, Nalva disse que nunca havia suportado Marinalva e muito menos Dalva, Marinalva por si só aos berros, disse que odiava a maneira a qual Nalva falava cuspindo, Malva gritava, apontando o dedo na cara de Nalva,com uma de suas mãos, dizendo que a tempos sabia da traição, e ao mesmo tempo com a outra mão dava murros de ódio em cima do corpo do falecido, Dalva sempre muito amiga de todas suas dezesseis vizinhas, fez todas se desculparem, cada qual foi para sua casa, e Dalva ia rindo pelo caminho, pois a verdade era que nunca havia gostado de nenhuma de suas dezesseis vizinhas fofoqueiras e rabugentas, e mal sabia Malva, Marinalva, e Nalva, que quem havia matado Francisco, marido de Malva, fora a própria Dalva, que o matara de infarto, ao dançar para ele em cima da cama de Malva, mas não foi a dança de Dalva que o matou, mas sim a pele linda e alva da bela e doce Dalva.

A Cor do Asfalto

O crânio bateu no asfalto com força, era o peso da cabeça vezes um número que não me lembro, mas tinha várias casas, centena, milhar, dezenas delas. Ela se partiu e pelo asfalto vazou milhares de coisas, dinheiro, cores, livros, aparelhos tecnológicos (como sempre cada vez menores), idéias choveram em páginas, muitas páginas, de dentro de sua cabeça também saiu um feto, o desejo inacabado de um filho que gestava em um espaço alheio de útero, um espaço branco, que ele chamava de imaginação. Pela guia do asfalto escorria até a boca de lobo mais próxima tudo o que ele queria ter dito e armazenou em sua cabeça. Durante horas o líquido correu, parecia ser alguém muito calado para guardar tantas coisas para se dizer, ou alguém muito idiota, a ponto de dizer tantas tolices e não se preocupar com o que realmente valia a pena ser dito. As crianças pegaram os papeis que do céu caiam, e rasgaram já que não entenderam nada ao ler, as páginas não tinham seqüência, e como eram muitas, não tiveram vontade de ajunta-las para saber quais as idéias de um desconhecido sem cabeça no chão. As crianças se divertiam com a chuva de idéias picadas.
A policia chegou e cobriu o corpo que depois da queda estava decapitado. O plástico negro dava destaque imenso as cores que saíram de sua cabeça. A policia tentou listar todas as coisas que saíram da cabeça do garoto, geladeiras coloridas, fotos, muitas delas, rolos intermináveis de vídeo, e muitas outras coisas. Tudo o que se podia imaginar havia saído daquela cabeça agora inexistente no asfalto.
Os legistas a chamado da policia examinaram primeiramente as condições do local, examinaram então o corpo.
As causas foram a surpresa. No laudo sobre a morte do garoto consta que ele tinha dois corações que bombeavam sangue por todo o seu corpo, inclusive para sua cabeça, os legistas chegaram a conclusão que dois corações bombeavam sonhos demais para uma única cabeça e esta não suportou, disseram que o peso da cabeça foi aumentando com o passar dos dias em dúvida, o garoto começou a viver uma vida dupla, o peso sobre sua cabeça aumentou radicalmente. O fino pescoço não agüentou o que fez com que perdesse o equilíbrio, caísse e estourasse em cores no asfalto preto.
Não havia maior poesia sobre um corpo morto, do qual esvaíram durante horas suas duas vidas. Os rolos de filmes continham seus sonhos, memórias, e nas fotos a vida dupla que levava. O fato é que ele estava em dúvida demais para viver o que lhe foi dado; uma única vida. Passou tempo demais imaginando o que queria viver, e não viveu o que tinha. As páginas dos Jornais do dia seguinte estavam encharcadas de tudo o que não deveria ser dito, pedaços de papel colados comprovavam de maneira errônea a história de vida do qual todos queriam saber quem era, o garoto do asfalto, o garoto que teve suas palavras engolidas por uma boca de lobo, o garoto que nunca foi, nem é e nem nunca será, eram títulos dos jornais.
Foi difícil identificar o corpo, mas as fotos ajudaram a encontrar a família, que guardou todos os pertences e o corpo do garoto em uma grande caixa.

No atestado de óbito consta:

“A morte foi causada pelo fato de possuir bicorações, que bombeavam sonhos demais, causando polidúvidas cranianas levando-o óbito imediato de suas polividas.”

Não poderia haver tristeza maior, que uma vida não vivida. Maior que esta é saber que isto não passa de uma das páginas que voaram de sua cabeça aos céus, naquela triste manhã de céu límpido e ensolarado do feriado do dia 13, no bairro da amargura, de um ano que ninguém mais se lembra, de um mês que ainda não existiu.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Grávida de Zero


            Zélia acredita que não esta vivendo o melhor momento de sua vida. Não era apenas ela que sentia isso, o mundo não vivia mais seu melhor momento desde seu nascimento, desde seu parto normal á fórceps do útero de um Deus andrógeno. Desde de incontáveis nascimentos humanos todos sentiram o mesmo. Zélia achava que era a única a ter deixado parir dentro de si o sentimento de insatisfação com o momento atual, nascimento de um presente que nunca estava ali em carne, nem em alma, o presente pode não ter alma talvez, talvez seja paranóia minha, mas a verdade é que ele sabe como assombrar o coração humano. Zélia não temia o futuro pois não tinha perspectiva do mesmo, Zélia temia o agora, pois ela não o sentia, vivia apenas com sua ausência, rodeando, vivendo o nada, jurando ou preferindo acreditar que poderiam juntos criar algo, mas Zélia não tinha mais nada, estava seca segundo a mesma psique, e não poderia originar nada que não fosse sua própria angustia por não tê-la de verdade. O marasmo, vegetal, insosso, e incólume é a vida de Zélia.
            Zélia não tem filhos, por que não tem marido, por isso nunca os originou, não tem amores, não tem libido, por isso é virgem, não tem signo, por que não nasceu sob o mesmo céu estrelado que vêem os astrólogos, milhares de constelações, por isso não acredita que o dia futuro possa ser visto, Zélia não gosta de pessoas, muitas pessoas, isso é um termo meio ambíguo.
Por tudo isso quero que entenda que Zélia, não esta feliz com sua situação atual, e talvez futura, afinal o agora, o presente é tudo aquilo que não podemos tocar, ver, sentir, ouvir, foge de todos os nossos sentidos, pois já partiu a todo o segundo, uma imensa rodoviária, um imenso aeroporto, aviões ônibus e vans, partindo a todo o momento com as únicas esperanças que Zélia poderia ter, mas prefere não acreditar neles, o presente, os agoras de nossa vida.
            Zélia decidida como nunca esteve, tendo a certeza de que tal decisão já passou, e tal atitude, considerada unânime em sua vida, decide voltar ao seu passado, em um momento onde era organizada, pois tinha um signo de virgem, que combinava com o do seu marido, cânceriano, e seus filhos foram cuidadosamente planejados, com um berço, um armário cor de rosa para sua filha, um azul para o menino, isso tudo por que tinha uma libido incrível, não chegava a ser devassa, mas não era como uma virgem que nada sabia sobre amores ou sexo. Estando Zélia em seu passado, viveu-o ate onde pode, ate onde deu, mas o passado, assim como este tempo que decorre-se perante aos seus olhos, essas linhas, também passa, Zélia estava grávida de seu terceiro filho, a maior, se não a gigantesca felicidade de sua vida, morreu de amores, passou por dores, febres por um pequeno ser que se formava dentro de si.
            O que seria disso se não uma discussão de uma pessoa só, já que Zélia passou.
            Feliz em seu passado, não percebia o que se aproximava, sua barriga grande, sua expectativa aumentada mil vezes pela espera de algo que não viria, estava gravidade zero, de nada, pairando como em um espaço nulo, onde nada existia, nem seu filho, nem mesmo ela, por que já havia morrido, era apenas uma gravidez psicológica, que acabaria com todas as frustrações de sua vida, o fato de não ter tido marido, não ter tido libido, não ter feito sexo, de não ter feito ao menos uma coisa notável alem de sua existência, mulheres como Zélia não tinham lugar neste mundo.
             Mulheres como Zélia não tem direito ao suicídio, não tem direito a reclamar algo, não tem direitos. Zélia não voltou ao passado como havia pensado, pois ela nem mesmo foi percebida neste mundo, Zélia voltou a uma lembrança que nunca viveu.

Mulheres como Zélia não tem direitos; nem mesmo lugar, mulheres como Zélia sub-existem em sua condição não existente.     

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Por Que as Unhas Crescem

As unhas crescem, se deixa-las crescerem podem chegar a muitos metros.

O tempo corre, se deixa-lo correr pode chegar ao fim da eternidade.
As unhas podem atingir seis, nove ou muitos metros mais.
O tempo, por mais que corra, não passa de 24.