terça-feira, 31 de agosto de 2010

Grávida de Zero


            Zélia acredita que não esta vivendo o melhor momento de sua vida. Não era apenas ela que sentia isso, o mundo não vivia mais seu melhor momento desde seu nascimento, desde seu parto normal á fórceps do útero de um Deus andrógeno. Desde de incontáveis nascimentos humanos todos sentiram o mesmo. Zélia achava que era a única a ter deixado parir dentro de si o sentimento de insatisfação com o momento atual, nascimento de um presente que nunca estava ali em carne, nem em alma, o presente pode não ter alma talvez, talvez seja paranóia minha, mas a verdade é que ele sabe como assombrar o coração humano. Zélia não temia o futuro pois não tinha perspectiva do mesmo, Zélia temia o agora, pois ela não o sentia, vivia apenas com sua ausência, rodeando, vivendo o nada, jurando ou preferindo acreditar que poderiam juntos criar algo, mas Zélia não tinha mais nada, estava seca segundo a mesma psique, e não poderia originar nada que não fosse sua própria angustia por não tê-la de verdade. O marasmo, vegetal, insosso, e incólume é a vida de Zélia.
            Zélia não tem filhos, por que não tem marido, por isso nunca os originou, não tem amores, não tem libido, por isso é virgem, não tem signo, por que não nasceu sob o mesmo céu estrelado que vêem os astrólogos, milhares de constelações, por isso não acredita que o dia futuro possa ser visto, Zélia não gosta de pessoas, muitas pessoas, isso é um termo meio ambíguo.
Por tudo isso quero que entenda que Zélia, não esta feliz com sua situação atual, e talvez futura, afinal o agora, o presente é tudo aquilo que não podemos tocar, ver, sentir, ouvir, foge de todos os nossos sentidos, pois já partiu a todo o segundo, uma imensa rodoviária, um imenso aeroporto, aviões ônibus e vans, partindo a todo o momento com as únicas esperanças que Zélia poderia ter, mas prefere não acreditar neles, o presente, os agoras de nossa vida.
            Zélia decidida como nunca esteve, tendo a certeza de que tal decisão já passou, e tal atitude, considerada unânime em sua vida, decide voltar ao seu passado, em um momento onde era organizada, pois tinha um signo de virgem, que combinava com o do seu marido, cânceriano, e seus filhos foram cuidadosamente planejados, com um berço, um armário cor de rosa para sua filha, um azul para o menino, isso tudo por que tinha uma libido incrível, não chegava a ser devassa, mas não era como uma virgem que nada sabia sobre amores ou sexo. Estando Zélia em seu passado, viveu-o ate onde pode, ate onde deu, mas o passado, assim como este tempo que decorre-se perante aos seus olhos, essas linhas, também passa, Zélia estava grávida de seu terceiro filho, a maior, se não a gigantesca felicidade de sua vida, morreu de amores, passou por dores, febres por um pequeno ser que se formava dentro de si.
            O que seria disso se não uma discussão de uma pessoa só, já que Zélia passou.
            Feliz em seu passado, não percebia o que se aproximava, sua barriga grande, sua expectativa aumentada mil vezes pela espera de algo que não viria, estava gravidade zero, de nada, pairando como em um espaço nulo, onde nada existia, nem seu filho, nem mesmo ela, por que já havia morrido, era apenas uma gravidez psicológica, que acabaria com todas as frustrações de sua vida, o fato de não ter tido marido, não ter tido libido, não ter feito sexo, de não ter feito ao menos uma coisa notável alem de sua existência, mulheres como Zélia não tinham lugar neste mundo.
             Mulheres como Zélia não tem direito ao suicídio, não tem direito a reclamar algo, não tem direitos. Zélia não voltou ao passado como havia pensado, pois ela nem mesmo foi percebida neste mundo, Zélia voltou a uma lembrança que nunca viveu.

Mulheres como Zélia não tem direitos; nem mesmo lugar, mulheres como Zélia sub-existem em sua condição não existente.     

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Por Que as Unhas Crescem

As unhas crescem, se deixa-las crescerem podem chegar a muitos metros.

O tempo corre, se deixa-lo correr pode chegar ao fim da eternidade.
As unhas podem atingir seis, nove ou muitos metros mais.
O tempo, por mais que corra, não passa de 24.