domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ad discendum

Sou poeta. Não sei o que isso quer dizer ao certo ainda, sei que posso escrever bem sobre meus sentimentos. Mas o que dizer daqueles que desconhecemos?
Bem ainda não achei o que pudesse dizer sobre aquele pequeno momento de minha vida inteira. Posso lhe narrar os fatos que presenciei não como espectador, mas como participante, narrando o que vi de dentro deste que vos escreve. Não posso te dizer ao certo o que acontecia lá dentro pois ainda desconheço.


Foi um beijo.


Fechamos os olhos para uma realidade dura de grandes problemas, nos escondemos atrás das pálpebras, e de lá observamos como voyers o que se passava dentro de nós. Era um beijo. Mas de despedida ou de boas vindas?
Não era um encontro com o outro, era um encontro consigo mesmo, onde contemplávamos pasmados a beleza de tudo o que fomos, de tudo o que nos construiu, de tudo o que havia no outro que aos poucos foi se tornando seu, se tornando meu. Era uma troca de tudo o que havia de bom, um espaço pra sermos o que havia de bom no outro. Foi curto. Poderia ter feito perder a conta das horas. Abrir os olhos e ver que nossos cabelos estavam enormes, unhas também, por que passamos meses nos beijando sem parar.

As vezes ando na rua e não posso deixar de ver que as casas lembram muito túmulos, estranhamente iguais a cemitérios, ruas com números, organizadas como bairros, em casas perpétuas ou alugadas por curtos anos sem significado. Não posso deixar de olhar e perceber que estamos em um cemitério de gente viva, enterrada em suas casas, em lápides de ladrilhos iguais as das casas, é assim que me vejo, enterrado. Mas naquele curto período me senti um visitante nesse cemitério de vivos, me senti vivo, fora das covas rasas ladeadas por muros baixos, me senti grande, expandi pra muito alem dali.

Era um encontro, o encontro de lagrimas por debaixo de óculos escuros, um encontro de águas. Escorreram e correram para mais longe que puderam um do outro. Não se entender assusta. Não entender ao outro também.

Não era um beijo, beijo é o encontro de lábios, aquilo era o encontro de almas bem vivas.


.brunocardoso